segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Mães denunciam que filhos foram vítimas de racismo ao serem acusados de furto em loja de shopping de Fortaleza

 

Um grupo de três mães denuncia que os quatro filhos adolescentes, foram vítimas de injuria racial ao serem acusados de furto por parte do gerente de uma loja de brinquedos de um shopping situado no Bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza. Os garotos ainda teriam sido alvo de uma abordagem constrangedora por parte dos seguranças quando já estavam na área de estacionamento do estabelecimento comercial.

Em um boletim de ocorrência registrado no dia 19 de junho no 10º Distrito Policial, uma das mães relata que no dia 18 de junho, o filho, que estava na companhia de amigos com idades entre 12 e 15 anos resolveram entrar em uma loja de brinquedos para olhar os preços, mas que em virtude dos valores não levaram nada.

"Eles pediram para ir dar uma volta no shopping e nós deixamos pois moramos perto e eles sempre vão lá passear e voltam, sem nunca ter acontecido nada de anormal, porém nesse dia após sair da loja de brinquedos, e continuar andando pelo shopping, visitando outras duas lojas perceberam que seguranças os acompanhavam, até que ao chegar ao estacionamento, os homens questionaram se o grupo tinha levado alguma coisa da loja", relatou uma das mães.

A Polícia Civil informou que o 10º Distrito Policial apura uma suposta denúncia de injúria racial, registrada por meio de boletim de ocorrência, no último dia 19 de junho. Conforme o procedimento policial, o caso teria ocorrido no dia 18 de junho, no Bairro Presidente Kennedy. A PC disse ainda que "diligências e oitivas estão em andamento no intuito de elucidar os fatos".

A administração do shopping informou que na data em questão, a equipe foi acionada pelo lojista para acompanhar um procedimento interno e que a atuação da equipe buscou apoiar o diálogo e resguardar as partes envolvidas. O shopping disse ainda que é inquestionável que atos de racismo não podem ser tolerados em nenhuma esfera da sociedade e que as equipes passam por programas de qualificação. "Informamos que estamos apurando detalhadamente o ocorrido e seguimos à disposição das autoridades para total investigação dos fatos", encerra a nota do estabelecimento.


Acusação de furto

Ainda conforme os depoimentos das mães, quando os garotos já estavam cercados pelos seguranças, o gerente da loja de brinquedos apresentou uma gravação para os agentes afirmando que o grupo de amigos tinha praticado um furto.

Ao ver a gravação, uma das crianças explicou para o gerente que quando estava na loja retirou o seu próprio aparelho celular que estava caindo da cintura e o colocou no bolso, negando ter sido um furto.

No relato dado à polícia, os meninos afirmaram ainda que nesse momento, gerente e segurança passaram a conversar entre si e um deles teria dito que os garotos deveriam ter entregue o produto do furto para um terceiro e que por isso nada foi encontrado com eles no momento da abordagem.


Trauma após abordagem

A mãe de um dos garotos informou ao g1 que os meninos foram intimidados inclusive com a arma de um dos seguranças. "Eles disseram que um dos seguranças chegou a mostrar a arma para eles, embora não tenha sacado o revólver, mas só em mostrar foi algo traumático, uma ameaça pela intimidação", disse.

Segundo ela, a história chegou à comunidade em que ela mora e que a partir disso os garotos estão sendo motivo de chacota e chamados de ladrões pelos outros colegas e que o fato fez com que eles deixassem de frequentar a escola.

"Um dos meninos chegou a vir embora do colégio antes de terminar a aula porque estava sendo alvo de zoação e constrangimento. Eles não querem mais sair de casa, não querem brincar na rua devido ao trauma. Só porque somos de uma comunidade, somos pobres e não temos poder aquisitivo não quer dizer que não temos dignidade. Só os ricos podem passear no shopping? Entrar numa loja? Eu só quero que meu filho volte a conviver com os outros, não está sendo fácil", desabafou.


Inquérito aberto

O advogado Miguel Alexandrino, que representa a defesa de uma das mães afirmou que um inquérito policial já foi aberto na Polícia Civi e que já requisitou as gravações da loja. Ele disse que vai processar criminalmente o estabelecimento pela atitude tomada em relação aos adolescentes.

"As crianças estão necessitando inclusive de tratamento psicológico porque sofreram bullying na escola após o fato se tornar conhecido entre os colegas e viraram motivo de zoação no ambiente escolar e na comunidade. Vamos chamar o Ministério Público e registar o fato na especializada que é a Delegacia da Criança e do Adolescente", disse.


Por g1 CE


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