quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Mulheres sofrem machismo e são minoria nas eleições cearenses, diz pesquisadora



Com o fim do prazo definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Ceará já definiu candidaturas para a disputa nas eleições 2022. O pleito, contudo, chama atenção pela baixa quantidade de mulheres, mesmo com a promulgação de reserva de 30% do fundo eleitoral para candidatas femininas — que devem compor pelo menos 30% das candidaturas pelas siglas — para ampliação da representatividade de gênero na política.

A professora Carla Michele Quaresma, mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), pontua que, nas eleições deste ano, houve aumento de cerca de 1% nas candidaturas de mulheres. A alta se deu no contexto em que o fundo eleitoral deve dirigir 30% das verbas para candidaturas femininas, que devem ser distribuídas proporcionalmente ao número de candidatas.

O aumento, porém, foi "tímido", principalmente ao se considerar os estímulos dados pelas novas regras de incentivo à participação feminina nas eleições 2022, de acordo com a professora, que se debruça sobre temas como marketing político, partidos políticos e financiamento de campanhas eleitorais. "Acreditava-se, por causa do recurso do fundo de campanhas eleitorais, que seria um contingente maior de mulheres, principalmente candidatas a deputada federal", refletiu.

Atualmente, o estado tem cinco representantes mulheres entre 46 parlamentares na Assembleia Legislativa do Ceará (Alce): Aderlânia Noronha (SD), Augusta Brito (PT), Dra. Silvana (PL), Érika Amorim (PSD) e Fernanda Pessoa (UB), atualmente licenciada, com Carlos Matos Lima como suplente.

Delas, Dra. Silvana e Érika Amorim tentarão a reeleição, enquanto Augusta Brito está como suplente de candidatura ao Senado e Fernanda Pessoa tentará uma vaga como deputada federal. Na Câmara dos Deputados, a única representante cearense é Luizianne Lins (PT).

"Ainda há, por parte de partidos políticos, uma dificuldade muito grande de utilizar os recursos de fundos partidários para fomentar que mulheres tenham participação e liderança na política, além da criação desses espaços, que as mulheres tenham possibilidade de viabilizar uma candidatura que seja exitosa", analisou a professora.

Ela situou que essa dificuldade, porém, perpassa toda a política desde muito tempo — a atividade é, historicamente, considerada essencialmente masculina.

Segundo a professora, a política nasceu direcionada a homens fortes e adultos, e as mulheres eram consideradas, na Antiguidade, como objetos. Depois houve o período medieval, em que não havia participação política.

"Quando foi retomada a demanda por participação política, já na construção de um projeto de modernidade, essa participação só foi efetivada para homens", explicou, pontuando que o modelo nasceu de forma muito excludente e depois se consolidou assim.

"A política é muito associada a jogo, a disputa, a poder, e essas características são associadas social e culturalmente ao universo masculino. Em decorrência disso, ainda há essa dificuldade de entender que os espaços devem ser construídos de forma paritária, inclusive em torno do gênero".


Por g1 CE


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