sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Minoria entre os eleitos, candidatas do Ceará ainda dependem de padrinhos homens nas eleições, diz pesquisadora



O número de mulheres ocupando cargos políticos segue inferior em relação ao número de homens no Ceará. Na Assembleia Legislativa, por exemplo, o crescimento de deputadas estaduais foi pequeno em relação a 2018, quando 46 parlamentares foram eleitos e, entre eles, seis vagas foram ocupadas por mulheres. Este ano, o número aumentou de seis para oito deputadas eleitas.

Além disso, segundo a professora de ciências políticas Carla Michele Quaresma, muitas mulheres que conseguem o feito de serem eleitas, na maioria das vezes, tiveram apadrinhamento político dos maridos, com participação ativa nas eleições.

"Muitas mulheres ainda precisam desse respaldo dado por um homem, que é o que dá credibilidade às suas candidaturas. Então, muitas mulheres que se elegeram só conseguiram por causa de um marido que fez essa transferência de votos e participou muito ativamente da campanha. As pessoas votaram na esposa acreditando que o voto estava sendo direcionado para o marido, como se ele fosse conduzir o mandato. E muitas mulheres precisam da ajuda de um pai que também faz essa transferência do mercado político para a mulher", disse Michele Quaresma.

Ela também lembra que, durante muitos séculos, a atividade política não incluiu a participação feminina, o que só veio acontecer no final do século 19. A exclusão acaba repercutindo ainda hoje.

"Foi na década de 30 que as mulheres começaram a ter essa possibilidade de participar de processos eleitorais, mas de uma forma muito tímida. Então essa participação é muito recente e ainda há um caminho muito longo que precisa ser construído numa mudança cultural, mas também em intervenções legais. Nesse sentido, nós temos que reconhecer que houveram avanços significativos nos últimos anos", contou.

Para a pesquisadora, o Ceará é retrato da situação do país, com poucas mulheres na política, segundo avaliação da especialista.

"Aqui no Ceará nós ainda temos essa realidade. Embora tenhamos uma governadora, ela só conseguiu chegar a essa posição com a renúncia do governador Camilo Santana, que foi disputar uma vaga no Senado Federal, e ainda assim não teve a possibilidade de disputar a reeleição. O estado do Ceará é um pouco do retrato do que ocorre no Brasil", explicou.


Avanços

Ainda segundo a cientista política, mesmo que pequenas, como mostra a diferença das eleições de 2018 para as de 2022, com duas deputadas a mais eleitas, houve avanços importantes nas últimas décadas.

"É necessário, também, que os partidos garantam as condições de financiamento das campanhas eleitorais de mulheres através dos recursos públicos, do fundo de campanhas eleitorais. Houveram esses avanços e é necessário reconhecer porque eles foram importantes para garantir esse crescimento ao longo dessas últimas décadas. É um crescimento tímido, principalmente se nós considerarmos que a maioria do eleitorado é feminino e isso nem de longe está nos espaços de representatividade", explicou.


Por Isayane Sampaio, g1 CE


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