O jovem de 26 anos que denunciou racismo em um shopping no bairro Benfica, em Fortaleza, diz ter sido expulso do local por ser negro. Nas imagens obtidas pelo g1, ele questiona um segurança se as agressões foi por conta da cor. "Senhor, é só a cor? Com certeza", diz.
Ele exibiu também o pescoço com hematomas, após sofrer um mata-leão do segurança, técnica de imobilização. "Olha o meu pescoço, senhor. Olha meu pescoço inchado, meu irmão".
O homem identificado como Tomas Michael Silva Adewoye é de São Paulo e estava com amigos na praça de alimentação quando foi abordado por seguranças do local. Ele relatou que, desde o momento em que chegou no shopping, notou que seguranças seguiam ele e os dois amigos.
“Eu fui pro shopping para passar a tarde com dois amigos. Minha mãe e as esposas deles estavam também, só que no andar debaixo fazendo compras. Desde que a gente chegou no shopping nós três [ele e os amigos], os seguranças estavam atrás de nós, acompanhando até o banheiro, praça de alimentação. Eu gravei tudo”, explicou.
"Me senti muito impotente e discriminado. Estou traumatizado com essa situação. Essa é a palavra", lamentou o jovem.
A Secretaria da Segurança Pública informou que a Polícia Civil apura uma denúncia de preconceito de raça ou cor, ocorrida no sábado em um estabelecimento comercial. O Shopping Benfica disse que apura todas as informações e imagens acerca do caso; e está em contato com todos para que a análise seja feita na íntegra.
Então, em determinado momento, ele pediu que os seguranças se afastassem, pois o trio estava se sentindo constrangido. Com isto, uma discussão iniciou entre os jovens e os funcionários do shopping.
"Começaram a me ofender com palavrões, xingando minha mãe, eu retruquei. Sentei na mesa e, em determinado momento, eles me pegaram por trás, com um 'mata-leão'. Ele me trouxe do segundo andar até a saída do shopping enforcado", denunciou o jovem.
Suposta importunação contra mulher
A Polícia Militar informou que foi acionada para atender uma ocorrência de desordem no shopping. Ao chegar no local, foi informado aos agentes que um indivíduo tinha cometido uma importunação sexual contra uma mulher, o que teria motivado a confusão.
A PM diz que a suposta mulher que teria feito a acusação de importunação sexual não estava mais no local quando chegou para atender a ocorrência. Tomas foi encontrando fora do estabelecimento após ter sido retirado pela segurança do shopping. Uma testemunha também estava no local. Todos os envolvidos foram orientados a comparecer a uma delegacia para registrarem o fato mediante Boletim de Ocorrência.
Segundo Tomas, durante a discussão, uma mulher se apresentou e disse ter reclamado com os seguranças pois não gostou da forma como ele teria olhado para as filhas dela. Contudo, Tomas negou que tenha tido algum contato com essa mulher e as filhas dela.
"Tentaram colocar como importunação para justificar os atos. Eu estava com amigos, minha mãe, família, não olhei nem falei com ninguém a não ser meus amigos", disse. Ele falou que acionou a Polícia Militar, mas reclamou que os policiais não deram atenção, mesmo sendo ele quem os chamou.
Ele registrou um boletim de ocorrência. "Eu sempre passei por coisas assim, mas nunca nesse ápice de me tirarem de um estabelecimento à força, com minha mãe do lado, e eu não poder fazer nada."
O Shopping Benfica, por nota, informou que até o momento, de acordo com imagens e relatos de pessoas que acompanharam o episódio, o cliente estava em consumo de bebida alcoólica, em uma mesa, na companhia de outros dois rapazes. Ele estava com o celular na mão, fazendo filmagens. De acordo com testemunha, estaria gravando mulheres. Clientes se sentiram incomodadas e reclamaram para segurança.
Conforme o estabelecimento, uma senhora, em mesa próxima, percebeu que ele estaria gravando as filhas dela e também pediu ajuda à segurança para que ele parasse. O supervisor de segurança dirigiu-se à mesa dos clientes para conversar e relatar o que disseram.
Agressão contra supervisor
Ainda de acordo com o estabelecimento, Tomas não teria gostado da reclamação, exaltou-se e agrediu o supervisor. "A primeira agressão foi verbal e, logo após, física. Depois deste momento, quando houve flagrante exaltação e agressões por parte do cliente, e identificando que a ocasião poderia tomar proporção maior e colocar em risco os demais presentes no espaço, a segurança precisou intervir e tomou a medida de levá-lo da praça de alimentação para a saída e chamou a polícia militar para administrar a situação", disse o shopping.
O estabelecimento informou ainda que irá conversar com o cliente do caso. "Contudo, infelizmente, foi necessária a reação para controlar agressões, a fim de preservar a integridade de todos: envolvidos e os demais que não tinham participação no fato ocorrido", explicou.
"Agiu-se, por necessário. O Shopping Benfica tem responsabilidade social e não pratica ou apoia qualquer discriminação", complementou.
A Secretaria da Segurança Pública confirmou que o caso foi noticiado por meio de um boletim de ocorrência registrado no 34º Distrito Policial, e transferido para a Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou Orientação Sexual (Decrin), unidade que dará prosseguimento às investigações. A Polícia Civil reforçou a importância da vítima comparecer à Decrin para repassar mais informações sobre o fato.
A PMCE disse que repudia qualquer tipo de discriminação e que pauta as próprias ações na legalidade e imparcialidade, tratando todos os cidadãos de forma igualitária sempre que acionada.
“A corporação ressalta ainda que, em sendo constatado qualquer tipo de transgressão disciplinar ou cometimento de crime, haverá apuração de maneira imparcial e transparente, a fim de que haja os esclarecimentos dos fatos”, complementou a PMCE.
Por g1 CE
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