Quando se fala em Inquisição, é comum pensar em mulheres, apontadas como bruxas, amarradas a troncos enquanto são queimadas vivas em uma pequena vila do interior da Europa. Acontece que a Inquisição, em seu período mais mortal, funcionou principalmente em cidades – e algumas delas localizadas, inclusive, fora do continente europeu, em países como Índia e Brasil.
Ao longo dos 285 anos da atuação do Tribunal do Santo Ofício em Portugal e nos territórios que compunham o Império português, há estimativas de pelo menos 400 brasileiros condenados por práticas, à época, consideradas contrárias à fé católica, como “judaizar”, homossexualidade, bigamia, feitiçaria e “solicitação”. O número de denunciados, porém, é maior.
A historiadora brasileira Anita Novinsky, em seu livro Inquisição: Rol de Culpados, enumera pelo menos 1.819 habitantes do Brasil denunciados ao Tribunal do Santo Ofício. A maioria destes eram cristãos-novos, nome dado aos judeus convertidos à força ao cristianismo por ordem da Coroa portuguesa em 1497.
Por séculos, cristãos-novos e seus descendentes foram perseguidos pelas forças inquisidoras, que desconfiavam de que estes, na verdade, mantinham suas tradições judaicas no segredo do lar.
Por sua distância de Portugal, por seu vazio demográfico e sua relativa ausência de normas restritas, os cristãos-novos viram na recém-descoberta Terra de Santa Cruz – nome inicialmente dado ao Brasil pelos portugueses - uma oportunidade de recomeçar. Aqui, eles se tornaram comerciantes, agricultores e se tornaram uma das principais bases de construção da colônia.
O Santo Ofício, porém, não se restringiu à Europa. Com seus familiares, agentes, visitadores e sedes além-mar, a Inquisição atuou na Colômbia, no Peru, no México, no Brasil e até mesmo na Índia. Aqui, portanto, os cristãos-novos que se instalaram encontraram uma Inquisição ativa e vigilante.
Por Leonardo Igor, g1 CE
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