O advogado da família de Taian Fé Nogueira da Costa, 27
anos, alega que o jovem não entrou em luta corporal com policiais durante
abordagem na Praia de Iracema, em Fortaleza. Taian trabalhava na orla da
capital como vendedor em uma barraca de lanches e bebidas. Ele morreu baleado
durante uma abordagem na madrugada do último dia 12 de março.
"Não teve [luta corporal]. Há testemunhas que comprovam
que não teve. Até porque o próprio depoimento do policial fala que o garoto foi
algemado. Se ele foi algemado, como teve luta corporal?", questionou o
advogado Walisson dos Reis, que representa a família da vítima.
O policial militar apontado como responsável pelo disparo
foi afastado um dia após a morte de Taian. O g1 entrou em contato, nesta
terça-feira (26), com a Polícia Militar e a Controladoria Geral de Disciplina
dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) para atualizações
do caso, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Taian foi abordado por policiais militares que, ao checarem
o nome, encontraram um mandado de prisão preventiva em aberto contra ele. A
ordem era da Vara de Execução Penal da Região Metropolitana de Belém por um
processo de roubo. O advogado não negou que Taian correu para o mar após saber
que seria preso.
De acordo com a polícia, o jovem se exaltou e lutou contra
os policiais e teria tentado roubar a arma de um dos agentes. Neste momento ele
foi atingido pelo tiro e levado com vida para uma unidade hospitalar, mas não
resistiu aos ferimentos.
"Mesmo que ele estivesse com um mandado de prisão,
agente do estado nenhum pode sair por aí atirando em pessoas desarmadas e
alegar legítima defesa", reforçou Walisson.
Ele disse ainda que a família vai buscar a responsabilização
do Estado, a condenação do policial e a exclusão dele dos quadros da Polícia
Militar. "A gente vai buscar primeiro que esse policial
seja levado a júri popular e condenado; que todas as testemunhas
sejam ouvidas em sede policial para confirmar que ele não agiu em legítima
defesa", complementou.
Taian estava com clientes quando foi abordado por policiais
militares no início da madrugada. Segundo testemunhas, houve um desentendimento,
Taian foi algemado e, posteriormente, foi baleado. As versões da polícia e de
testemunhas sobre a morte dele são conflitantes.
Após a morte de Taian, houve um aparente reforço do
policiamento na região, com presença maior de agentes da Polícia Militar e da
Guarda Municipal.
Anteriormente, a CGD disse ainda que a ocorrência também
está sendo apurada pela Coordenadoria de Polícia Judiciária Militar (CPJM) da
Polícia Militar, por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM).
Quem passou pela Praia de Iracema na noite do dia 12 foi
surpreendido pelo cenário esvaziado de um dos principais cartões-postais de
Fortaleza. As barracas e carrinhos de ambulantes, que costumam movimentar o
calçadão da praia, estavam todos fechados após a morte do vendedor ambulante.
Conforme informações recebidas pelo g1, os vendedores não
foram trabalhar por ameaça de traficantes da região, que determinaram o
fechamento do comércio local após a morte do jovem.
Horas após a morte, na noite de terça, todo o trecho da
Praia de Iracema entre a estátua de Iracema, próximo à rua Ildefonso Albano,
até as proximidades do Poço da Draga, na Avenida Almirante Tamandaré, estava
com o movimento de pedestres reduzido e o comércio de barracas e carrinhos
fechado.
No local, policiais afirmaram que o vazio na região se devia
a um "protesto da população por conta de um incidente que aconteceu de
madrugada na praia".
O g1 questionou a Secretaria de Segurança Pública do Ceará
se a polícia foi informada acerca de ordens para fechar o comércio. Em nota, a
secretaria não respondeu ao questionamento, mas destacou que "o
policiamento preventivo e ostensivo aconteceu de forma regular por toda a
extensão do calçadão da Praia de Iracema, em Fortaleza, sem nenhuma ocorrência
registrada".
Segundo a Polícia Militar, por volta da meia-noite, agentes
fizeram uma abordagem a um grupo de pessoas que estavam na barraca de Taian
Costa. Durante as investigações, os policiais teriam encontrado drogas.
A polícia afirmou que ao fazer buscas no sistema da
Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança, os policiais descobriram o
mandado de prisão em aberto.
Já relatos de testemunhas dão conta de que houve a abordagem
dos policiais militares e Taian Costa estava nervoso. Eles reforçam que a
vítima estava algemada e não tentou tirar a arma dos policiais.
Por fim, testemunhas asseguraram que não houve
encaminhamento da vítima para um hospital. Taian Costa morreu ainda no calçadão
da Praia de Iracema.
g1 CE.
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