A Polícia Civil prendeu nesta segunda-feira (11) uma mulher
de 32 anos que se passava por advogada no Ceará. Ela foi capturada no momento
em que cobrava dinheiro de uma das vítimas em um estabelecimento comercial no
bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. Ela teria feito, pelo menos, 20
vítimas com a falsa identidade.
O companheiro dela também foi preso. Com 31 anos, ele tem
passagens por tráfico e associação para o tráfico, corrupção de menores e
roubo. A dupla foi autuada em flagrante pelos crimes de estelionato e
identidade falsa.
Duas vítimas relataram como a suspeita agia: ela dizia ser
especialista em casos trabalhistas e previdenciários e pedia quantias em
dinheiro para os clientes, mas, logo depois, sumia. Conforme advogado que acompanha
os casos, pelo menos 20 vítimas relataram ter sofrido o golpe.
A primeira vítima, que não será identificada por questões de
segurança, disse que procurou os trabalhos da falsa advogada em setembro do ano
passado, quando foi demitido de seu antigo emprego.
"Passei um ano e oito meses (no trabalho). Lá, fui
acusado de roubo injustamente. Fizeram eu pedir minhas contas, sem justa causa.
Uma colega dela, que trabalhava na mesma empresa, disse que conhecia uma
advogada".
Para começar o processo, a mulher pediu um valor de R$
1.320,00, de acordo com a vítima. Ela, inclusive, mostrava um documento que a
identificava como membro da Ordem dos Advogados do Estado do Ceará (OAB-CE).
A partir de então, ela começou a ser mais evasiva e a deixar
o cliente sem respostas. A falsa advogada enviava até documentos adulterados
para tentar dar mais veracidade à situação:
"Passaram cinco meses e nada (do caso ser resolvido).
Ela fez uma petição falsa e me mandou os valores, era R$ 49 mil. Ela disse que
a empresa tinha bloqueado, ficou me enrolando".
Em fevereiro deste ano, a vítima começou a estranhar o caso
e disse que procurou um outro profissional. Este novo advogado foi quem
percebeu que tudo não passava de um golpe e que não existia nenhum processo no
nome da vítima.
"Fui prestar o Boletim de Ocorrência (B.O). Ela disse
nesta semana para eu ir em um banco pegar o dinheiro, mas sabia que era
mentira".
A vítima e a polícia fizeram uma emboscada para flagrar a
falsa advogada, o que causou a prisão dela e do companheiro nesta
segunda-feira.
A segunda vítima, que também não será identificada por
questões de segurança, trabalhava como porteiro em uma empresa privada há sete
anos.
Ao longo do tempo, além de diabetes e hipertensão, ele foi
diagnosticado com depressão e síndrome do pânico. O homem contatou com a falsa
advogada para tentar aposentadoria por invalidez.
"Estou fazendo um tratamento psiquiátrico. Uma amiga
indicou a senhora, dizendo que ela trabalhava com isso. Ela deu entrada, aquela
coisa toda, mas eu ligava para eles e nunca atendiam", disse ao g1.
A vítima descobriu o golpe de forma semelhante ao primeiro
caso: quando pediu ajuda de outro advogado, descobriu que ela havia enviado um
número incorreto de processo. Mais uma vez, o processo não existia.
Neste caso, a vítima perdeu o valor de R$ 150,00, que foi
pedido pela falsa advogada para a realização de um laudo médico.
"Ela mexeu no meu psicológico. Sou uma pessoa humilde,
estou encostado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), passando uma
dificuldade tremenda. Estou tentando construir minha casa. Achei muita covardia
da parte dela".
O advogado Hélder Cavalcante está cuidando deste e de outros
casos semelhantes. Pelo menos 20 pessoas foram enganadas pela mesma suspeita,
de acordo com relatos repassados ao g1.
"No ano de 2023, fui procurado por mais de 20 vítimas
de uma falsa advogada. Ela prometia aposentadoria, BPC (Benefício de Prestação
Continuada) e auxílio incapacidade", disse o advogado.
Ainda de acordo com Helder, além da prática ilegal de
advocacia, o crime de estelionato pode render entre um e 5 anos de prisão e
multa.
O portal solicitou à Secretaria da Segurança Pública e
Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS) o número correto de vítimas e aguarda
resposta.
O g1 também solicitou posicionamento da OAB-CE sobre o caso
e aguarda resposta.
Por Gabriela Feitosa, g1 CE.
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