A ‘publi orgânica’ pegou o uruguaio Juan Jose Luis Mendez de
surpresa. Morando há 28 anos em Fortaleza, o comerciante abriu uma pastelaria
há cerca de cinco meses no bairro Lagoa Redonda. O vídeo de uma moradora, que
mostrava a pouca clientela do estabelecimento, acabou rendendo duas noites de lotação.
Ficou até difícil atender todo mundo.
A vontade de ajudar e fazer um vídeo sobre a pastelaria já
existia antes, conta a esteticista Vitória Back, de 21 anos. Ela foi
experimentar um crepe quando a Pastelaria Don Juan inaugurou no bairro onde
mora.
Vitória sempre lamentou que um lugar com boa comida e boa
localização, na avenida Odilon Guimarães, tivesse pouco movimento. Ela já
costumava dar dicas para o dono, conhecido como Don Juan, para melhorar as
vendas.
“Eu sempre ia lá comer, mas sempre que eu tava lá, eu tava
sozinha. E uma prima minha mora em frente. Sempre quando eu tava na casa dela,
eu via que lá estava vazio. No ano passado, eu já tinha comentado com essa
minha prima de fazer alguma coisa”, relata.
No sábado (23), Vitória foi até lá com a filha e passou mais
um tempo conversando com o dono do lugar. Ela fez um vídeo para publicar nas
próprias redes sociais pedindo que as pessoas fossem conhecer. E esperava
alcançar as pessoas próximas, amigos e clientes que estavam entre os seus
seguidores.
O alcance foi bem maior. No domingo, o vídeo já contava com
mais de 300 mil curtidas no TikTok. Foi quando Vitória publicou o mesmo
conteúdo no Instagram.
A partir daí, as pessoas começaram a marcar influenciadores
digitais locais, que viram o vídeo e somaram esforços. Houve também grupos de
WhatsApp para combinar a ida até lá.
O domingo já foi de casa cheia. Para Juan Jose, a surpresa
foi completa, pois ele nem sabia da existência do vídeo.
“Você imagina que eu abri a porta um dia, na noite do domingo,
e tinha cem pessoas entrando aqui e não estavam preocupadas em ser atendidas
com ordem ou sem ordem. Queriam conversar comigo, me conhecer. E foi aí que
começou tudo”, contou Juan ao g1.
Aos 72 anos, o comerciante é chamado de Don Juan pela
maioria dos conhecidos. Ele fala um portunhol carregado e recebe com simpatia
os clientes e visitantes.
Juan mora há 48 anos no Brasil e fez de Porto Alegre a
primeira morada. Ele chegou a Fortaleza há 28 anos e trabalhou como amolador de
facas, tesouras e outros materiais cortantes com um ponto comercial em um
shopping.
Depois de uma pausa por causa da pandemia, Juan resolveu
recomeçar alugando uma casa e montando a pastelaria na Lagoa Redonda. E passou
os últimos meses tentando vingar no novo ramo.
Até ser surpreendido pelas pessoas que se mobilizaram no
último fim de semana, ele estava tentando construir uma clientela. Agora, pensa
no desafio de expandir para atender bem os que estão chegando.
O movimento foi quase caótico na noite da segunda-feira
(25). Isso porque, com a repercussão do domingo, dois influenciadores digitais
de Fortaleza anunciaram que iriam à pastelaria e estimularam os seguidores a
fazer o mesmo.
O influenciador Pobretion prometeu comprar R$ 1 mil em pastéis
para quem fosse. Quem também esteve na pastelaria foi a influenciadora Aline
Rodrigues, que alugou mesas e cadeiras para que as pessoas presentes tivessem
onde sentar.
A pastelaria seguiu repercutindo nos perfis deles, com as
fotos e os vídeos mostrando centenas de pessoas no estabelecimento. A área da
casa onde a pastelaria funciona ficou pequena para tanta gente.
A calçada ficou lotada de pessoas em pé. As entregas de
pastéis e pizzas foram suspensas, pois o foco era para quem já estava lá. Don
Juan pedia desculpas por não conseguir atender a todos como gostaria.
Como autora do primeiro vídeo, Vitória esteve no local nas
duas noites. Ela conta que as pessoas que foram até lá incluíam moradores de
bairros mais distantes e de outros municípios, como Caucaia e Maracanaú.
Para também ajudar a manter o movimento daqui em diante, os
visitantes começaram a compartilhar o perfil oficial da pastelaria no
Instagram. Na noite da segunda, já eram 14 mil seguidores. Esse número subiu
para 21 mil na terça-feira.
“Uma pessoa que estava lá no domingo se solidarizou para
ajudar. Na segunda, ela também foi, pegou o celular e ficou postando algumas
coisas. As pessoas estavam perguntando por que ele não mexia [no Instagram].
Várias pessoas entraram em contato comigo querendo gerenciar o perfil. Hoje
mesmo vai uma pessoa lá para fazer fotos, vídeos e dar uma alinhada no perfil.
E, aos poucos, a gente vai conseguindo deixar tudo no lugar”, partilhou
Vitória.
Dentre as publicações nos stories, a pastelaria já chegou
até a denunciar um perfil fake, com um usuário que estava tentando se passar
pelo perfil da pastelaria.
Na manhã da terça-feira, Don Juan foi até o centro da
cidade. A missão era comprar uma nova fritadeira para aumentar a produção de
pastéis. Nesta semana, um novo pizzaiolo também vai reforçar a atividade da
casa.
Por enquanto, os produtos disponíveis são pastéis e pizzas.
A ideia é ter mais funcionários e condições de ofertar outros itens do
cardápio, como crepes e sanduíches.
Morando sozinho em Fortaleza, Don Juan afirma que o momento
é de expandir e de entender como deve ser a movimentação da pastelaria depois
destes primeiros dias impulsionados pelo “pessoal da internet”.
“Eu estou me situando, não caiu a ficha ainda. Estou fazendo
tudo para crescer organizadamente para não perder nossa qualidade, com a massa
de pastel que nós mesmos fazemos, que é uma massa seca e crocante, que não pega
óleo”, explicou.
Juan demonstra gratidão a todos os que resolveram conhecer e
indicar o estabelecimento. Esse agradecimento começa por Vitória, a quem ele se
refere como alguém que entrou na pastelaria e mudou a sua vida.
Para a esteticista, a sensação ainda é de não acreditar na
repercussão do vídeo que publicou.
“Pra mim, é surreal. A gente até agora tá meio sem entender.
Eu, que sou mais nova do que ele e tenho mais acesso às redes sociais, não tô
conseguindo assimilar tudo isso que aconteceu. Imagine pra ele, que é um senhor
e não sabe mexer em rede social”, partilha Vitória.
Para a jovem, a gratidão é por ter conseguido ajudar uma
pessoa que está tentando empreender. Uma das motivações foi o exemplo de uma
empresária do bairro que também se dispôs a fazer um vídeo sobre ela quando
ainda estava cursando a faculdade e vendia dindin pelo bairro.
Mesmo com bolsa integral, ela precisava de uma renda para
conseguir arcar com os custos para estudar e morar sozinha. “Eu não tive
retorno financeiro nem nada. Mas muita gente ficou conhecendo a minha história
e veio falar comigo”, recorda.
g1CE.
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