quarta-feira, 27 de março de 2024

Pastelaria ‘deserta’ viraliza por não ter clientes e recebe multidão em Fortaleza após mobilização nas redes sociais

 

A ‘publi orgânica’ pegou o uruguaio Juan Jose Luis Mendez de surpresa. Morando há 28 anos em Fortaleza, o comerciante abriu uma pastelaria há cerca de cinco meses no bairro Lagoa Redonda. O vídeo de uma moradora, que mostrava a pouca clientela do estabelecimento, acabou rendendo duas noites de lotação. Ficou até difícil atender todo mundo.

A vontade de ajudar e fazer um vídeo sobre a pastelaria já existia antes, conta a esteticista Vitória Back, de 21 anos. Ela foi experimentar um crepe quando a Pastelaria Don Juan inaugurou no bairro onde mora.

Vitória sempre lamentou que um lugar com boa comida e boa localização, na avenida Odilon Guimarães, tivesse pouco movimento. Ela já costumava dar dicas para o dono, conhecido como Don Juan, para melhorar as vendas.

“Eu sempre ia lá comer, mas sempre que eu tava lá, eu tava sozinha. E uma prima minha mora em frente. Sempre quando eu tava na casa dela, eu via que lá estava vazio. No ano passado, eu já tinha comentado com essa minha prima de fazer alguma coisa”, relata.

No sábado (23), Vitória foi até lá com a filha e passou mais um tempo conversando com o dono do lugar. Ela fez um vídeo para publicar nas próprias redes sociais pedindo que as pessoas fossem conhecer. E esperava alcançar as pessoas próximas, amigos e clientes que estavam entre os seus seguidores.

O alcance foi bem maior. No domingo, o vídeo já contava com mais de 300 mil curtidas no TikTok. Foi quando Vitória publicou o mesmo conteúdo no Instagram.

A partir daí, as pessoas começaram a marcar influenciadores digitais locais, que viram o vídeo e somaram esforços. Houve também grupos de WhatsApp para combinar a ida até lá.

O domingo já foi de casa cheia. Para Juan Jose, a surpresa foi completa, pois ele nem sabia da existência do vídeo.

“Você imagina que eu abri a porta um dia, na noite do domingo, e tinha cem pessoas entrando aqui e não estavam preocupadas em ser atendidas com ordem ou sem ordem. Queriam conversar comigo, me conhecer. E foi aí que começou tudo”, contou Juan ao g1.

Aos 72 anos, o comerciante é chamado de Don Juan pela maioria dos conhecidos. Ele fala um portunhol carregado e recebe com simpatia os clientes e visitantes.

Juan mora há 48 anos no Brasil e fez de Porto Alegre a primeira morada. Ele chegou a Fortaleza há 28 anos e trabalhou como amolador de facas, tesouras e outros materiais cortantes com um ponto comercial em um shopping.

Depois de uma pausa por causa da pandemia, Juan resolveu recomeçar alugando uma casa e montando a pastelaria na Lagoa Redonda. E passou os últimos meses tentando vingar no novo ramo.

Até ser surpreendido pelas pessoas que se mobilizaram no último fim de semana, ele estava tentando construir uma clientela. Agora, pensa no desafio de expandir para atender bem os que estão chegando.

O movimento foi quase caótico na noite da segunda-feira (25). Isso porque, com a repercussão do domingo, dois influenciadores digitais de Fortaleza anunciaram que iriam à pastelaria e estimularam os seguidores a fazer o mesmo.

O influenciador Pobretion prometeu comprar R$ 1 mil em pastéis para quem fosse. Quem também esteve na pastelaria foi a influenciadora Aline Rodrigues, que alugou mesas e cadeiras para que as pessoas presentes tivessem onde sentar.

A pastelaria seguiu repercutindo nos perfis deles, com as fotos e os vídeos mostrando centenas de pessoas no estabelecimento. A área da casa onde a pastelaria funciona ficou pequena para tanta gente.

A calçada ficou lotada de pessoas em pé. As entregas de pastéis e pizzas foram suspensas, pois o foco era para quem já estava lá. Don Juan pedia desculpas por não conseguir atender a todos como gostaria.

Como autora do primeiro vídeo, Vitória esteve no local nas duas noites. Ela conta que as pessoas que foram até lá incluíam moradores de bairros mais distantes e de outros municípios, como Caucaia e Maracanaú.

Para também ajudar a manter o movimento daqui em diante, os visitantes começaram a compartilhar o perfil oficial da pastelaria no Instagram. Na noite da segunda, já eram 14 mil seguidores. Esse número subiu para 21 mil na terça-feira.

“Uma pessoa que estava lá no domingo se solidarizou para ajudar. Na segunda, ela também foi, pegou o celular e ficou postando algumas coisas. As pessoas estavam perguntando por que ele não mexia [no Instagram]. Várias pessoas entraram em contato comigo querendo gerenciar o perfil. Hoje mesmo vai uma pessoa lá para fazer fotos, vídeos e dar uma alinhada no perfil. E, aos poucos, a gente vai conseguindo deixar tudo no lugar”, partilhou Vitória.

Dentre as publicações nos stories, a pastelaria já chegou até a denunciar um perfil fake, com um usuário que estava tentando se passar pelo perfil da pastelaria.

Na manhã da terça-feira, Don Juan foi até o centro da cidade. A missão era comprar uma nova fritadeira para aumentar a produção de pastéis. Nesta semana, um novo pizzaiolo também vai reforçar a atividade da casa.

Por enquanto, os produtos disponíveis são pastéis e pizzas. A ideia é ter mais funcionários e condições de ofertar outros itens do cardápio, como crepes e sanduíches.

Morando sozinho em Fortaleza, Don Juan afirma que o momento é de expandir e de entender como deve ser a movimentação da pastelaria depois destes primeiros dias impulsionados pelo “pessoal da internet”.

“Eu estou me situando, não caiu a ficha ainda. Estou fazendo tudo para crescer organizadamente para não perder nossa qualidade, com a massa de pastel que nós mesmos fazemos, que é uma massa seca e crocante, que não pega óleo”, explicou.

Juan demonstra gratidão a todos os que resolveram conhecer e indicar o estabelecimento. Esse agradecimento começa por Vitória, a quem ele se refere como alguém que entrou na pastelaria e mudou a sua vida.

Para a esteticista, a sensação ainda é de não acreditar na repercussão do vídeo que publicou.

“Pra mim, é surreal. A gente até agora tá meio sem entender. Eu, que sou mais nova do que ele e tenho mais acesso às redes sociais, não tô conseguindo assimilar tudo isso que aconteceu. Imagine pra ele, que é um senhor e não sabe mexer em rede social”, partilha Vitória.

Para a jovem, a gratidão é por ter conseguido ajudar uma pessoa que está tentando empreender. Uma das motivações foi o exemplo de uma empresária do bairro que também se dispôs a fazer um vídeo sobre ela quando ainda estava cursando a faculdade e vendia dindin pelo bairro.

Mesmo com bolsa integral, ela precisava de uma renda para conseguir arcar com os custos para estudar e morar sozinha. “Eu não tive retorno financeiro nem nada. Mas muita gente ficou conhecendo a minha história e veio falar comigo”, recorda.

 

g1CE.

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