148 cearenses entre zero e 18 anos foram assassinados no
Ceará durante os cinco primeiros meses do ano. Isso corresponde a uma morte de
criança ou adolescente por dia, em média. Os dados são do Centro de Defesa da
Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca). De 2017 a 2022, foram 2.907 mortes.
O Governo do Estado, no entanto, traz outro contexto. De
acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Ceará, foram 107 assassinatos
entre janeiro e maio - e não 148. E entre 2017 e 2022, foram 1.946. Segundo o
órgão, será investido até fim do ano R$ 1 bilhão de reais em políticas públicas
para tratar a temática.
A divergência nos dados acontece porque a SSPDS leva em
consideração crianças e adolescentes até os 18 anos incompletos. Já o Cedeca
considera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz que adolescente
é a pessoa com até os 18 anos de idade.
Ainda conforme o levantamento do centro de defesa, crianças
negras e/ou da periferia estão mais vulneráveis à violência.
Abaixo, o g1 explica - para além dos dados - o contexto dos
ataques a essa população, casos que chamaram atenção neste ano e o que tem sido
feito por autoridades para frear as mortes.
Bebê é baleado na cabeça em praça de Fortaleza; homem morre
após os tiros
Em 14 de junho deste ano, uma bebê de nove meses foi baleada
na cabeça em uma praça pública localizada no Bairro Joaquim Távora, em
Fortaleza.
No mesmo mês, uma criança e uma mulher foram mortas a tiros
no Bairro Barroso, também na capital. Na ocasião, nove crianças e adolescentes,
com idades de 8 a 16 anos, foram baleados durante o ataque.
Kátia do Nascimento, mãe da bebê baleada, relembrou em
entrevista à TV Verdes Mares o ataque na praça. Foi uma "noite de filme de
terror", segundo ela. A criança segue internada:
"Tenho fé em Deus que ela vai voltar. Os irmãos estão
com saudade dela, perguntam quando a Rebeca vai vir", revelou a mulher.
Mãe de bebê baleada em praça fala sobre estado de saúde da
criança
Ingrid Leite, coordenadora de monitoramento de Políticas
Públicas do Cedeca, explica que a organização de grupos faccionados é um dos
elementos que tensiona a violência no Ceará, especialmente contra crianças
negras e da periferia. "A gente tem a ausência de espaços qualificados
para a convivência de crianças e adolescentes", citou também.
A existência de uma desigualdade no investimento público
também é apontada pela especialista como outra contribuição para o contexto de
violência.
Em 2023, foram investidos R$ 4,6 bilhões na área de
segurança pública no Ceará. O orçamento para a assistência social, no entanto,
foi de R$ 718 milhões.
"Se o poder público investisse de forma integrada em
educação, assistência e saúde, nós teríamos um outro cenário. Investir em
prevenção e prevenção não é caro", avalia Ingrid Leite.
O coordenador técnico do Comitê de Prevenção e Combate à
Violência da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Thiago de Holanda,
explica que é preciso equilibrar mais esse orçamento para que os serviços
cheguem mais nas crianças e adolescentes vulneráveis.
"São adolescentes negros, que moram mais na periferia -
não só de Fortaleza, mas da Região Metropolitana e do Interior do Estado",
acrescentou Thiago.
Há oito anos o comitê realiza pesquisas e recomendações de
políticas públicas para prevenção da violência contra adolescentes no Ceará.
"A gente precisa amparar essas famílias, entender qual
a dimensão do risco que elas estão correndo hoje, saber as necessidades que
passam a ter depois dessa violência, para que outras pessoas dessa própria
família não sofram com mais violência", concluiu o coordenador.
Os especialistas apontam que garantir o acesso a direitos
básicos é um caminho para romper o ciclo da violência.
Não é só a violência da bala, mas a violência de presenciar
o conflito, de perder amigos, violência de não ter segurança de que seus
familiares vão ficar vivos. Então todo o trauma é gerado"
— Ingrid Leite, coordenadora de monitoramento de Políticas
Públicas do Cedeca
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
do Estado do Ceará (SSPDS) disse que desenvolve ações que vão desde a formação
dos servidores, passando pelo policiamento ostensivo, até o atendimento
humanizado às vítimas. "Além disso, as Forças de Segurança fazem
discussões nas escolas sobre temas como prevenção às drogas e violência sexual.
São ações que se relacionam às políticas de outras áreas".
O Governo do Ceará disse, ainda, que só nos primeiros cinco
meses de 2024 investiu quase R$ 322 milhões de reais em políticas voltadas a
crianças e adolescentes. "As ações também envolvem o acesso a programas de
educação, proteção social, esporte, lazer e cultura". O órgão disse que
planeja chegar a R$ 1 bilhão de reais em investimentos na área até o fim do
ano.
Por g1 CE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário