Ana Mayane dos Reis Severino, de 28 anos, morta com um tiro
no peito durante a desocupação do terreno de uma fábrica têxtil desativada, não
ocupava o terreno, segundo amigos e familiares. Os barracos estavam localizados
na Rua Dom Hélio Campos, no Bairro Carlito Pamplona. A ocupação tinha 15 dias e
abrigava 500 famílias.
Ana Mayane morava junto do esposo e uma filha em uma casa
alugada nos arredores da ocupação. Segundo testemunhas, ela acordou com o
barulho dos tiros e da retroescavadeira e foi ver com outras pessoas o que
ocorria no bairro. Ela acabou sendo atingida por um disparo de arma de fogo no
peito e não resistiu aos ferimentos.
O sogro da vítima, Joel Lima, informou ao g1 que Ana Mayane
chegou a ser socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento do Cristo Redentor,
mas não resistiu ao ferimento. Ela deixa o marido e a filha de 4 anos.
“Ela era inocente, era mãe de família. Ela levou um tiro no
peito, morreu e deixou uma filha. Eles tiraram a vida de uma inocente. Nós
queremos justiça", disse a parente da vítima.
Em represália à morte da mulher, moradores realizaram
protestos na região, resultando em ao menos dois ônibus apedrejados e bloqueios
com barricadas em chama nas Avenidas Leste-Oeste e Francisco Sá.
Moradores relataram que uma criança também teria sido
atingida durante a ação. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará, contudo,
não confirma a informação.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS)
afirmou que a morte de Mayane está sendo investigada pelo Departamento de
Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que esteve no local.
O governador Elmano de Freitas (PT) se pronunciou nas redes
sociais na tarde desta terça, e destacou que o episódio de violência na
desocupação ocorreu em um terreno de propriedade privada.
"Três suspeitos de envolvimento no caso já foram
identificados, sendo que dois deles conduzidos à delegacia para prestar
depoimento. Determinei ao nosso secretário da Segurança Pública rigorosa
apuração deste lamentável episódio", afirmou Elmano.
Segundo a Polícia Militar, cerca de cinco homens envolvidos
na expulsão dos moradores foram detidos em um carro particular e encaminhados
ao 34º Distrito Policial.
Um vídeo gravado por testemunhas mostra o momento em que
três homens encapuzados e com roupas pretas são detidos pelos militares.
Conforme um morador, que terá a identidade preservada, por
volta de 2h homens encapuzados chegaram ao local se apresentando como policiais
e obrigaram as pessoas a saírem da ocupação. Como os ocupantes reagiram, eles
passaram a atirar.
"As pessoas resistiram, e eles começaram a atirar,
atingindo uma mulher que estava dormindo em um dos barracos com a filha
pequena. Acordei com os tiros. Depois que tudo aconteceu, a polícia só foi
chegar em torno de 5 horas, quando a população começou a protestar na
avenida", disse o morador.
Em nota enviada ao g1, a empresa têxtil Fiotex, proprietária
do terreno onde estava o acampamento desocupado, afirmou que o terreno é alvo
de demarcação irregular e que chegou a registrar um boletim de ocorrência no
34º Distrito Policial.
A empresa afirmou que adotou "medidas para cessar a
demarcação ilegal" e que, no momento que sua equipe chegou, não havia
moradores no terreno.
"A ação foi testemunhada por policiais militares e
ocorreu de forma pacífica por quase duas horas. A equipe foi surpreendida por
agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e
realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus
arredores", diz a Fiotex. "A Fiotex não compactua com atos de
violência. A empresa está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar
com as investigações e se solidariza com a família da vendedora Mayane Lima e
com todas as outras vítimas"
Conforme a Fiotex, um trator utilizado na ação foi destruído
e incendiado, e dois colaboradores ficaram feridos.
A Polícia Militar disse que, sob a perspectiva das ações
preventivas de segurança pública, oficiou a empresa proprietária do terreno que
o mesmo estaria sendo alvo de demarcações irregulares, bem como orientou como a
empresa proceder em caso de solicitação de medidas judiciais, portanto, legais.
Já com relação à presença de viaturas e/ou policiais
militares no local, anteriormente ao acionamento da Coordenadoria Integrada de
Operações de Segurança (Ciops), na manhã desta terça-feira, irá averiguar os
fatos por meio do procedimento pertinente.
De acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza,
dois ônibus coletivos foram atacados e tiveram os vidros quebrados com pedradas
e pedaços de madeira.
Segundo informações de testemunhas, o ônibus da linha 092
Antônio Bezerra/Praia de Iracema/Papicu trafegava pela Avenida Leste-Oeste
quando foi abordado por dezenas de homens. Os criminosos jogaram pedras e
alguns passageiros sofreram ferimentos leves. O motorista desviou o caminho por
alguns metros e estacionou o veículo na Avenida Filomeno Gomes.
"Eram dezenas de pessoas. Aí começou a gritaria e minha
atitude foi sair da frente. Esses homens correram em direção ao coletivo.
Estavam armados com pedra e pedaços de pau. Foi bem assustador", afirmou o
motorista do ônibus.
Já o outro ataque, ocorreu na Avenida Francisco Sá, em um
coletivo da linha 114 Conjunto Nova Assunção/Francisco Sá.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do
Estado do Ceará (Sindiônibus) informou que, em ambos os casos, a polícia foi
acionada de imediato e os coletivos tiveram suas rotas temporariamente
desviadas, mas já operam normalmente.
"As autoridades competentes já estão investigando os
casos, e o Sindiônibus permanece à disposição para colaborar com informações
necessárias", disse o Sindionibus.
Durante os protestos, foram instaladas barricadas em chamas
nas avenidas da região. Uma estação de bicicletas compartilhadas foi destruída.
O Corpo de Bombeiros foi acionado e apagou os focos de
incêndio que estavam espalhados em vários pontos do Grande Pirambu.
Por g1 CE
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