quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Jovem morta durante desocupação não morava em terreno e foi baleada quando se aproximou do local


 

Ana Mayane dos Reis Severino, de 28 anos, morta com um tiro no peito durante a desocupação do terreno de uma fábrica têxtil desativada, não ocupava o terreno, segundo amigos e familiares. Os barracos estavam localizados na Rua Dom Hélio Campos, no Bairro Carlito Pamplona. A ocupação tinha 15 dias e abrigava 500 famílias.

Ana Mayane morava junto do esposo e uma filha em uma casa alugada nos arredores da ocupação. Segundo testemunhas, ela acordou com o barulho dos tiros e da retroescavadeira e foi ver com outras pessoas o que ocorria no bairro. Ela acabou sendo atingida por um disparo de arma de fogo no peito e não resistiu aos ferimentos.

O sogro da vítima, Joel Lima, informou ao g1 que Ana Mayane chegou a ser socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento do Cristo Redentor, mas não resistiu ao ferimento. Ela deixa o marido e a filha de 4 anos.

“Ela era inocente, era mãe de família. Ela levou um tiro no peito, morreu e deixou uma filha. Eles tiraram a vida de uma inocente. Nós queremos justiça", disse a parente da vítima.

Em represália à morte da mulher, moradores realizaram protestos na região, resultando em ao menos dois ônibus apedrejados e bloqueios com barricadas em chama nas Avenidas Leste-Oeste e Francisco Sá.

Moradores relataram que uma criança também teria sido atingida durante a ação. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará, contudo, não confirma a informação.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) afirmou que a morte de Mayane está sendo investigada pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que esteve no local.

O governador Elmano de Freitas (PT) se pronunciou nas redes sociais na tarde desta terça, e destacou que o episódio de violência na desocupação ocorreu em um terreno de propriedade privada.

"Três suspeitos de envolvimento no caso já foram identificados, sendo que dois deles conduzidos à delegacia para prestar depoimento. Determinei ao nosso secretário da Segurança Pública rigorosa apuração deste lamentável episódio", afirmou Elmano.

Segundo a Polícia Militar, cerca de cinco homens envolvidos na expulsão dos moradores foram detidos em um carro particular e encaminhados ao 34º Distrito Policial.

Um vídeo gravado por testemunhas mostra o momento em que três homens encapuzados e com roupas pretas são detidos pelos militares.

Conforme um morador, que terá a identidade preservada, por volta de 2h homens encapuzados chegaram ao local se apresentando como policiais e obrigaram as pessoas a saírem da ocupação. Como os ocupantes reagiram, eles passaram a atirar.

"As pessoas resistiram, e eles começaram a atirar, atingindo uma mulher que estava dormindo em um dos barracos com a filha pequena. Acordei com os tiros. Depois que tudo aconteceu, a polícia só foi chegar em torno de 5 horas, quando a população começou a protestar na avenida", disse o morador.

Em nota enviada ao g1, a empresa têxtil Fiotex, proprietária do terreno onde estava o acampamento desocupado, afirmou que o terreno é alvo de demarcação irregular e que chegou a registrar um boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial.

A empresa afirmou que adotou "medidas para cessar a demarcação ilegal" e que, no momento que sua equipe chegou, não havia moradores no terreno.

"A ação foi testemunhada por policiais militares e ocorreu de forma pacífica por quase duas horas. A equipe foi surpreendida por agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores", diz a Fiotex. "A Fiotex não compactua com atos de violência. A empresa está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações e se solidariza com a família da vendedora Mayane Lima e com todas as outras vítimas"

Conforme a Fiotex, um trator utilizado na ação foi destruído e incendiado, e dois colaboradores ficaram feridos.

A Polícia Militar disse que, sob a perspectiva das ações preventivas de segurança pública, oficiou a empresa proprietária do terreno que o mesmo estaria sendo alvo de demarcações irregulares, bem como orientou como a empresa proceder em caso de solicitação de medidas judiciais, portanto, legais.

Já com relação à presença de viaturas e/ou policiais militares no local, anteriormente ao acionamento da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), na manhã desta terça-feira, irá averiguar os fatos por meio do procedimento pertinente.

De acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza, dois ônibus coletivos foram atacados e tiveram os vidros quebrados com pedradas e pedaços de madeira.

Segundo informações de testemunhas, o ônibus da linha 092 Antônio Bezerra/Praia de Iracema/Papicu trafegava pela Avenida Leste-Oeste quando foi abordado por dezenas de homens. Os criminosos jogaram pedras e alguns passageiros sofreram ferimentos leves. O motorista desviou o caminho por alguns metros e estacionou o veículo na Avenida Filomeno Gomes.

"Eram dezenas de pessoas. Aí começou a gritaria e minha atitude foi sair da frente. Esses homens correram em direção ao coletivo. Estavam armados com pedra e pedaços de pau. Foi bem assustador", afirmou o motorista do ônibus.

Já o outro ataque, ocorreu na Avenida Francisco Sá, em um coletivo da linha 114 Conjunto Nova Assunção/Francisco Sá.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) informou que, em ambos os casos, a polícia foi acionada de imediato e os coletivos tiveram suas rotas temporariamente desviadas, mas já operam normalmente.

"As autoridades competentes já estão investigando os casos, e o Sindiônibus permanece à disposição para colaborar com informações necessárias", disse o Sindionibus.

Durante os protestos, foram instaladas barricadas em chamas nas avenidas da região. Uma estação de bicicletas compartilhadas foi destruída.

 

O Corpo de Bombeiros foi acionado e apagou os focos de incêndio que estavam espalhados em vários pontos do Grande Pirambu.

Por g1 CE

 

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